Rosenstein-Rodan, Industrialização e o Big Push para Sustentabilidade
Uma introdução parcial as principais ideias de um dos pais do desenvolvimento econômico
Segundo o economista pai do Desenvolvimento Econômico, Paul Rosenstein-Rodan, a industrialização em nações em desenvolvimento deve ser baseada em substanciais investimentos internacionais ou/e em empréstimos para formação de capital1. Ao destacar a importância da cooperação internacional no processo de desenvolvimento, ele se opõe ao "Modelo Russo" que pressupõe um processo de industrialização baseado na autossuficiência e na ausência de investimentos internacionais. Para Rosenstein-Rodan, este último modelo consiste em um processo de transformação produtiva lento, pois todos os níveis industriais precisariam ser construídos/desenvolvidos e a formação de capital ocorreria em detrimento do padrão de vida e do consumo das pessoas. Portanto, isso representaria perdas de eficiência por reduzir a Divisão Internacional do Trabalho (DIL), gerar um excesso de indústrias pesadas e desperdiçar recursos.
Assim, a industrialização deveria ser financiada por substanciais investimentos internacionais. Ao contrário do "Modelo Russo", a transformação produtiva ocorreria mais rapidamente e com pequeno sacrifício no padrão de vida da população. Rosenstein-Rodan propõe que haja, então, uma transferência da população em excesso nas zonas agrárias para trabalhar nas indústrias nascentes - que seriam, a princípio, indústrias leves e com suprimento de capital pesado pelas economias avançadas.
Vale explicar o porque o economista propõe esta transferência de trabalhadores para atividades industriais. Haveria um excesso de população na zona rural que produz a baixíssimos níveis de produtividade - o que ele chama de “disguised employment” ou desemprego disfarçado. Neste contexto, a industrialização poderia ocorrer de duas formas a fim de otimizar a divisão internacional do trabalho: (1) o excesso relativo de trabalhadores em determinadas regiões se deslocaria para onde existe excesso de capital relativo ou (2) o capital se deslocaria para onde há excesso de mão de obra em relação a capital. Como a opção (1) é difícil de operacionalizar e é mais custosa, a opção (2) logo se torna a mais viável. Dessa forma, faz sentido deslocar a mão de obra, disfarçadamente desempregada, para trabalhar em indústrias nessas regiões - sem prejuízo de desvalorização das terras pelo efluxo de pessoas.
O artigo que introduz estas ideias têm como objeto de estudo os países do leste e do sudoeste europeu o que explica a priorização de indústrias leves em detrimento das public utilities (utilidades públicas): ferroviais, canais, sistemas de geração e distribuição de energia etc. Diferentemente desses países, a América Latina e outros países em situação de subdesenvolvimento, carecem de infraestrutura básica para o desenvolvimento de indústrias leves.
Para as empresas alçarem um tamanho ótimo, Rosenstein-Rodan defende que sejam feitos investimentos para se desenvolver a industrialização em uma área suficientemente grande. O planejamento do desenvolvimento deve ser tal como o planejamento de uma firma/empresa ou trust. Em divergência aos economistas do laissez-faire, ele propõe que esses investimentos sejam orquestrados pelo Estado, pois, ao contrário, a produção industrial não alcançaria um ótimo social. Ele explica: os agentes privados não tem incentivo para qualificar a mão de obra, dado que o risco de mudança de firma pelos trabalhadores representaria perda de capital. Entretanto, este seria um bom investimento para o Estado que beneficiaria um conjunto de empresas daquela indústria. Este é um caso clássico da divergência pigouviana quando o produto social é maior do que o produto privado.
A outra razão desses investimentos requererem planejamento pelo Estado se deve as economias externas. Rosenstein-Rodan explica que não basta criar uma empresa específica a fim de desenvolver uma região de baixa renda não industrializada, pois os trabalhadores provavelmente não terão renda suficiente para gerar a demanda necessária que dará continuidade àquela produção. Renda tal que seria dividida gasta com custos de acomodação, transporte, alimentação etc. De outro modo, é substancial investir, de uma única vez, em um ecossistema produtivo que oferte um conjunto de bens desejados para aquela população- deixando, então, o efeito multiplicador acontecer. Há ainda outros dois tipos de economias externas: a marshaliana, em que uma empresa se beneficia do crescimento de uma indústria e aquela em que uma indústria se beneficia do nascimento de outra indústria. Neste último caso, ele cita a indústria ligada a produção e distribuição de energia elétrica que geraria externalidades positivas ao desenvolvimento de indústrias ligadas a produção de bens a base de eletricidade.
O Big Push para a Sustentabilidade
O pensamento Rosenstein-Rodan está em alta na discussão sobre transição para uma economia de baixo carbono. Como se trata de uma necessidade de transformação profunda nas bases de produção da economia mundial, economistas vêm argumentando a favor de investimentos à la Rosenstein-Rodan. Ou seja, vultosos, coordenados entre si e feitos ‘de uma vez’, como um grande impulso (big push).
Rosenstein-Rodan, P. N. (1943). Problems of Industrialisation of Eastern and South-Eastern Europe. The Economic Journal, 53(210/211), 202–211.